segunda-feira, janeiro 23, 2012

*Perdido na própria casa

Introdução
É possível uma pessoa ter um pai incrível, uma casa maravilhosa, um campo cheio de novilhos, empregados, acesso à boa música, amigos e, mesmo assim, estar insatisfeito, vivendo como um pobre infeliz? Essa é a triste realidade do irmão do filho pródigo.
Texto-Base: Lucas  15: 25-32
Nas duas mensagens anteriores sobre este texto enfocamos primeiro a figura do pai e depois a figura do filho mais novo, que saiu de casa. E alguém poderia dizer assim: que bom que nós não somos aquele jovem que saiu de casa, desperdiçou parte da sua vida e todos os seus bens. Que bom que nós estamos na igreja, que nunca nos desviamos da doutrina, do ensino, que nunca fomos para o mundo, mas optamos por ficar sempre próximos do Pai.
Eu gostaria que nós pensássemos neste personagem que não saiu, que ficou em casa. Ele não se afastou do pai, não desperdiçou os bens dissolutamente e nem gastou tempo com as meretrizes. Ele esteve na casa do pai o tempo todo. ... Entretanto, ele não conhecia e não amava o seu pai de verdade e é sobre isso que nós vamos falar nesta noite.
Para fazer isto, é bom relembrarmos do contexto em que Jesus contou esta parábola, o qual evidencia que ele visava confrontar os escribas e fariseus que o condenavam por receber publicanos e pecadores e comer com eles. Seu ensino mostra a disposição de Deus em receber pecadores arrependidos e mostra a posição rebelde e conflitiva dos religiosos da época quanto à misericórdia de Deus.
É verdade, o filho que saiu foi um desastrado, mas o filho que ficou também não estava se saindo melhor. Toda aparente fidelidade dele estava fundada em premissas falsas e em interesses próprios, pois ele não carregava o selo do amor em seu coração, mas estava corroído pela inveja e pelos ciúmes.
Muita gente que está na igreja leva uma vida aparentemente religiosa, mas nunca consegue atingir a verdadeira espiritualidade que o pai deseja. A pessoa se envolve em diversas atividades, cumpre normas, mas não apresenta qualquer fruto espiritual pelo seu trabalho. “Nunca me recusei, nenhuma vez, a fazer uma só coisa que o Senhor me mandou”, disse àquele jovem, mas falou assim porque não conhecia a verdadeira natureza do pai e o que, de verdade, estava sendo requerido dele.
Na realidade este filho nunca amou o pai e nunca ficou com o pai por amor. Através do seu discurso, podemos ressaltar pelo menos quatro grandes erros que ele alimentava em seu coração, conflitivamente com a vontade do pai.
Argumentação
1 – Primeiro erro - ele discordou da maneira do pai agir, do seu senso de justiça. “Ora, o filho mais velho estivera no campo e quando voltava, ao aproximar-se da casa ouviu a música e as danças. Chamou um dos criados e perguntou o que era aquilo? Ele informou: “veio o teu irmão e teu pai mandou matar um novilho cevado”. Fez isto porque o recuperou com saúde. O filho mais velho se indignou e não queria entrar,. Não concordou com o pai. O que era motivo de alegria para o pai para ele foi motivo de frustração. Ele não aceita a maneira do pai administrar as coisas. Ele acha que tem um senso de justiça mais elevado que o do pai.
Trazendo isso para o campo espiritual seria o mesmo de contestarmos a maneira de Deus fazer o que quer com o que é seu. Este fato de ser preciso Jesus contar uma parábola para defender a soberania de Deus deveria nos fazer pensar porque certo tipo de doutrina e de pregação parece atrelar e subordinar Deus ao homem. Nós queremos que Deus seja não o Senhor, mas o executivo cumprindo as nossas ordens. Gente que não se submete a Deus, que se queixa: eu merecia uma coisa melhor, sempre fui um crente tão fiel, por que estou passando por este problema? Nunca deixei de estar na Igreja em todos os cultos, por que é que estou doente, por que fiquei desempregado? Por que estou passando por este tipo de problema? Não era para Deus fazer isto comigo. Ele deveria ter a obrigação de cuidar de mim, de evitar que algum mal me acontecesse. “Minha sugestão não foi aceita, perdi o cargo para o irmão mais novo, agora não devolvo mais o dízimo, não vou mais a Igreja. Vou mudar de Igreja”.
Será que amamos a Deus ou amamos as nossas idéias? Sim, porque Deus pode ser um conceito tão amplo onde colocamos o que nós queremos. A verdade é que a pessoa pode fazer parte da igreja física e não fazer parte do verdadeiro corpo de Cristo.
Quantas vezes nós estamos na igreja, aparentemente firmes no evangelho, mas com um coração insubmisso e murmurador? Fidelidade não é só estar na igreja ou cumprir normas. Fidelidade é algo que se manifesta pela submissão inconteste ao desígnio de Deus; é acatar sem questionar, é aceitar aquilo que vemos claramente como sendo a vontade de Deus sem procurar desculpas, sem racionalizar, sem tentar nos eximir de responsabilidade. Este filho não era verdadeiramente fiel ao pai, pois não se conformava com a vontade soberana do pai e não conhecia o sentido da palavra misericórdia. Ele estava lá por interesse. E quantos estão na Igreja por interesse! .... Estava na presença do pai, mas não tinha amor pelo irmão. Em suma, estava perdido dentro de casa. Estava lá todos os dias, mas o coração estava fora. Ou seja, a pessoa pode estar aqui, mas o coração pode estar lá fora.
Como filho de Deus, como você tem se comportado para com Ele? Confia? É grato? Espera com paciência? Lute para não cair no exemplo deste filho que se achava certo, mas que errava gravemente. Aprenda a ser misericordioso como Deus é e a ser grato e fiel para com o Pai, reconhecendo a Sua sabedoria, justiça e soberania.
2 – Segundo erro - ele revelou um coração impregnado de inveja e ciúmes. O jovem faz uma pergunta a um criado: O que é isto em casa? O criado diz: veio teu irmão e teu pai mandou matar o novilho. Ele não quer entrar. O pai sai e vai chamá-lo para a festa e a palavra dele mostra o que vai no seu coração: “vindo este teu filho, que desperdiçou os teus bens. Primeiro, não era teu filho, era meu irmão que ele deveria dizer! Segundo, não foram os bens do pai, foram os bens do irmão mais jovem, porque ele, o que ficou, também recebeu a parte da herança. Mas ele não se alegrou com a volta do irmão. Ele viu o irmão como um rival.
E quantas vezes na igreja a vitória de um irmão, a prosperidade de um irmão é vista com inveja e ciúmes, porque se um irmão é melhor economicamente eu fico enciumado; porque um irmão ganha mais espaço na liderança da igreja eu fico com ciúmes. “Estou aqui há mais tempo do que os novos que estão chegando e deveria ter mais atenção”. O crescimento dos outros, a alegria dos outros não é a sua alegria. Existe no coração destes irmãos uma ausência de misericórdia.
“Este teu filho que desperdiçou os teus bens”... - Isso parece com tanto crente rabugento, amargo, ressentido, que não pode ver ninguém alegre. “Há tantos anos que te sirvo sem jamais transgredir uma ordem e tua e nunca me deste um cabrito se que para me alegrar com os meus amigos”. Quer dizer, para este daí tu destes o bezerro cevado. Eu queria só um cabritinho, magrinho, mas nem isso, nunca pude trazer os meus amigos aqui na fazenda para um churrasquinho. Agora esse daí que passou o tempo todo com prostitutas, quando volta tem esta festa toda.
Só as pessoas que amam de verdade são capazes de chorar com os que choram e celebrar com os que celebram (Rm 12.15). São estas as pessoas que não permitem que a inveja encontre espaço no seu coração porque o mesmo transborda de amor. Foi o apóstolo Paulo quem afirmou: “... o amor não é invejoso...” (1 Co 13.4).  Há pessoas que são capazes de chorar com os que choram, mas não são capazes de se alegrar com os que se alegram. Você sabia que há aqueles que “amam” você quando você está sofrendo, e que o “odeiam” quando você está feliz?
Em uma de suas mensagens, o pastor, Wagner Gabi, contou uma ilustração muito interessante:
“Era uma vez uma cobra que começou a perseguir um vagalume, que só vivia a brilhar. Ele fugia rapidamente, com medo da feroz predadora. Mas a cobra nem pensava em desistir. O vagalume fugia um dia, dois... Mas ela não desistia. No terceiro dia, já sem forças, o vagalume parou e perguntou à cobra:
- Posso fazer-lhe três perguntas?
- Não costumo abrir esse precedente para ninguém, mas já que vou comer você mesmo, pode perguntar.
- Pertenço à sua cadeia alimentar?
- Não.
- Fiz-lhe alguma coisa?
- Não.
- Então, por que você quer me comer?
- Porque não suporto ver você brilhar...”
A inveja continua sendo a causa dos conflitos nos relacionamentos, das divisões nas igrejas, das perseguições dentro das empresas e de muitas mortes no mundo. (Exemplos de Caim e Abel, de Saul e Davi e de José e seus irmãos).
3 – Terceiro erro - ele julgou e condenou seu irmão (v. 30): “Vindo, porém este TEU filho, que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado.” Este irmão mais velho errava quando ao julgar seu irmão (a quem nem mais considerava como tal) o condenava como um perdido. Ele não conseguia dimensionar o resultado da experiência que seu irmão vivera, arrependendo-se e buscando a reconciliação com o pai.
O pai, que via corretamente, discordou do mais velho e afirmou: “Este teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado.” Aprendamos com nosso Pai a misericórdia. Que seria de Moisés, Davi e Pedro, por exemplo, se nosso Deus não fosse misericordioso e perdoador? Você errará gravemente se não aprender a distinguir um pecador perdido de um pecador remido. Jesus deixou bem claro que a nós, cristãos, não cabe julgar, nem condenar, mas simplesmente perdoar, como Ele perdoa.
Essa atitude me faz lembrar de uma ilustração muito interessante contada pelo Pastor Josué Gonçalves: Ele conta que um certo casal, recém-casado, mudou-se para um bairro muito tranqüilo. Na primeira manhã que passavam na casa, enquanto tomavam café, a mulher reparou, através da janela,  uma vizinha que pendurava lençóis no varal, e comentou com o marido:
- Que lençóis sujos ela está pendurando no varal! Está precisando de um sabão novo!  Se eu tivesse intimidade, perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas!
O marido a tudo escutava, calado. Alguns dias depois, novamente, durante o café da  manhã, a vizinha pendurava lençóis no varal, e a mulher, novamente, comentou com o marido:
- Nossa vizinha continua pendurando os lençóis sujos! Se eu tivesse intimidade,  perguntaria se ela quer que eu a ensine a lavar as roupas! E assim, a cada dois ou três dias, a  mulher repetia seu discurso, enquanto a vizinha pendurava suas roupas no varal.
Passado um mês, a mulher se surpreendeu ao ver os lençóis muito brancos sendo  estendidos e, toda empolgada, foi dizer ao marido:
- Veja, ela aprendeu a lavar as roupas! Será que alguém a ensinou? Porque eu mesma não disse  nada! O marido calmamente respondeu:
- Não. Hoje, eu levantei mais cedo e lavei os vidros da nossa janela!
E assim é. Tudo depende da janela através da qual observamos os fatos. A janela através da qual o irmão do “filho pródigo” estava observando os fatos precisava ser lavada. Toda pessoa que tem complexo de perfeição ou de superioridade, para a qual ninguém presta e, com facilidade,  julga e condena, tem problema na sua “janela”.
A Bíblia diz: “Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça” (João 7.24). “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e  sereis perdoados” (Lucas 6.37). Antes de condenar alguém, verifique se você fez alguma coisa para contribuir; depois, verifique seus próprios defeitos e limitações. E, se necessitar, não se acanhe: “lave sua vidraça”. Você jamais será o único a fazê-lo!
4 – Quarto erroele achava que tinha justiça própria; que era melhor do que os outros; e que o pai lhe era devedor (v. 29): “Há tantos anos te sirvo, sem transgredir uma ordem tua...” Este irmão mais velho até parece gêmeo daquele fariseu da parábola contada por Jesus no mesmo Evangelho de Lucas, no capítulo 18. Ele se julgava perfeito, sem erros! E este falso censo de justiça própria é terrivelmente danoso para o indivíduo. Infalível, perfeito, justo... nenhum de nós o é! A soberba é, de fato e de verdade, uma larga avenida que conduz à perdição. Não se deixe dominar por este sentimento. Você já observou que os grandes homens de Deus foram todos humildes?
Todos os grandes personagens bíblicos foram abençoados e serviram ao Senhor com poder porque, antes de tudo, foram humildes. Souberam reconhecer suas limitações diante de Deus. Lembre-se que Deus resiste ao soberbo, mas dá graça ao humilde.
Na verdade, o irmão do filho pródigo dá a entender que estava vivendo como se fosse um “empregado” mal remunerado. As pessoas que sabem viver a vida com qualidade são aquelas que obedecem e servem aos pais por amor, prazer e gratidão. Lembre-se, só cobra do pai, como o irmão mais velho da parábola o fez, quem não tem consciência de que é filho.
Conclusão:Nós, cristãos, estamos sujeitos a cometer os mesmos quatro graves equívocos do irmão do filho pródigo: o de permitir que a inveja e os ciúmes criem raízes em nossos corações; o de negar a prática do perdão como ensinado pelo nosso Senhor; o de contestar as decisões de Deus, achando que Ele deveria ter agido de outro modo; e o de achar que possuímos justiça própria, a ponto de não mais reconhecermos nossos próprios erros.
Isso tem de nos levar a refletir por que é que servimos a Deus? Para recebermos coisas? Para ele cuidar de nós? Nós amamos a Deus ou as bençãos de Deus? Queremos servir a Deus ou ser guardados do mal? Olhamos para a figura de Jesus que merece o nosso amor ou olhamos para Deus como alguém que deve cuidar de nós, nos proteger e quebrar o nosso galho? Quanta falsa fidelidade por interesse!
Você está na igreja porque ama a Jesus ou porque quer um cabrito, um cargo, uma função, um destaque? E se não receber um cabrito vai ficar zangado? Se você perdesse tudo o que tem ainda continuaria a amar a Deus? Ou diria: entrei numa furada com este negócio de igreja.
É muito bom ter bênçãos, mas a vida cristã não é só isso! Os grandes vultos do cristianismo foram aqueles que ousaram morrer por sua fé, que estavam norteados não pelo que ganhariam de Deus, mas pelo quanto fariam por Deus e pelo evangelho. Aí voltamos à história do nosso jovem. Ele era legalista, prendia-se a normas, mas não amava o irmão! E a gente nunca vai parecer tanto com um fariseu quando amamos mais as nossas idéias, os nossos conceitos, o nosso status, do que a nossos irmãos.
Você realmente ama a Deus? Mudaria a sua vida por amor a Deus? Mudaria o seu jeito de ser se soubesse, e às vezes sabe, que seu jeito de ser não agrada a Deus? Se desfaria de certos compromissos, de certas ligações que não deve manter, de certas práticas sabendo que elas não agradam a Deus? Você assumiria um novo estilo de vida sabendo que é a vontade de Deus? Você se submeteria ao querer de Deus, abriria mão de seus próprios planos e simplesmente aceitaria que Ele tem o melhor para você?
O fato é que podemos ser um crente que cumpre todo o programa da Igreja, que não perde uma atividade, mas sem sentir o verdadeiro amor pelo pai e pelos irmãos. Fazer tudo o que nos dão para fazer, mas com segundas intenções. Só há um motivo para servir a Deus: Amar a Deus! Só há um motivo para a vida cristã. Não é o que Ele pode fazer por nós, porque ele já fez. É que Ele merece de nós, o nosso amor e o nosso serviço. Se a nossa vida cristã está direcionada em receber, em ser abençoado, em ser guardado, o exercício da sua aparente fidelidade será sempre inútil!
A verdadeira vida cristã é daquele que diz ao Senhor: “Senhor, eu te amo, na tristeza e na alegria, na benção e na privação, em qualquer momento eu amo ao Senhor e quero serví-lo”. - Que a sua fidelidade não seja sem valor, inútil! - Seja misericordioso com os irmãos, seja submisso a Deus e acima de tudo: Ame-o sem esperar nada em troca. - E com certeza ELE também dará uma festa quando recebê-lo em Sua Casa!
Estes foram os três erros do homem que se julgava absolutamente certo. Quem sabe você também entrou aqui despreocupado, pensando que tudo estava perfeito em sua vida e descobriu que há algo para mudar. Ore agora e peça ao Espírito Santo para purificá-lo. Saia daqui livre destes erros. Deixe a falsa religiosidade de lado, abandone o legalismo acusatório e desperte para uma vida de liberdade no Espírito e de total confiança e dependência do Pai. Deus é amor e misericórdia e se não entendermos e praticarmos esse mandamento jamais cresceremos na nossa vida espiritual.

Fonte:www.icjb.org.br

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